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Channel: Comentários em: Pimenta e pão de milho
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Por: Daniel de Sá

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Uma das pessoas com quem falei esta tarde foi com um homem de oitenta e tal anos que comia no trabalho muito pão de milho com uma laranja, incluindo casca e tudo.
Havia e há mar. Nasci a cerca de trinta metros da rebentação das ondas, em noite de grande temporal. Tomo como mais uma piada essa das ostras e mexilhões, para não a atribuir à ignorância do tipo de mares onde existem umas e outros. Se me tivesses falado de lapas, aí sim, muita gente matou a fome com pão e lapas, aliás coisa deliciosa. Mas meta-se-te nessa cabeça que os homens não podiam dar-se ao luxo de ir pescar, porque não podiam viver de peixe somente. Tinham de dar o dia, percebes? Ou pensas que muitos não pescavam sempre que podiam? Ou pensas que isto era tudo gente tola como tu mesmo finges ser? Ou ainda não percebeste que a propriedade estava mal dividida, apenas pertencendo a meia dúzia de senhores, e com uns poucos mais a terem terras suas?
Foi gente com espírito atoleimado ou velhaco como o teu que deixou má fama nos Açores durante a guerra. Na memória do povo ficaram as patifarias de vária ordem dos soldados continentais, e isso criou nele, povo, uma grande desconfiança quanto às gentes de “Lisboa”. Soldados iguais a quaisquer outros em qualquer parte do Mundo, mas aqui ninguém conhecera antes essa realidade. Houve alguns que por cá ficaram, excelentes pessoas, mas o mal deixa mais marcas.
Não sei se voltarei a ter paciência para te responder. Já aqui disse que contra mim aceito tudo sem me aborrecer, mas tu estás a passar para além da minha pessoa. Não faltará muito para que tenha vontade de te mandar à fava. Quando o farei? Sabê-lo-ás pelo meu silêncio.


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